segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Para Ti





Era ainda madrugada, quase dia, o vento amornava ao calor suave do sol que surgia e no ar pairavam perfumes a lembrar que a noite, esta dama bela, por ali havia passado.

Era de manhã, quando em mim surgiu o desejo ardente de Te procurar.

Era primavera em meu coração; as flores abriam-se como as janelas das mansardas humildes ou como as portas largas das mansões suntuosas. Colibris colhiam o pólen e abelhas embriagavam-se, tontas de beleza. Aves chilreavam hinos de alegria e os arroios murmuravam segredos enquanto as nuvens espreitavam tímidas o rigor do sol.

Era dia alto quando em mim surgiu o desejo ardente de Te procurar.

Vibravam no ar as notas de uma canção singela e a voz dolente do cantor fazia-se ouvir, melodiosa e clara. Da terra ardente subiam ricos odores, confundindo os colibris, perturbando as abelhas e silenciando o arroio.

Era tarde, bem mais tarde e em mim surgiu o de- sejo ardente de Te procurar.

Da montanha distante chegava sorrateira a lua de prata e a dama negra, com estrelas no cabelo, novamente no céu apontou.

Estendi a coberta no chão de terra, esquecendo o desejo de Te procurar e adormeci. Por dias e noites a fio, vi surgir o sol e esconder-se a lua, cantar os pássaros, chorar o cantor na melodia. Por dias e noites deixei adormecer em mim a ânsia por Ti.

Mas hoje a Tua voz elevou-se, quebrando o lamento da canção. Hoje teu brilho, mais forte que o sol, afastou, sem receios, as nuvens da minha indecisão e eu Te vi. De safiras são os teus olhos, de cobre os teus cabelos, de marfim as tuas mãos e de amor é feito o teu coração. Em mim o desejo de Ti fez-se realidade, afugentando o sono que me enleava a alma, e saí à Tua procura.

Estavas em toda a parte.

Eras o pólen sedutor ou o colibri seduzido? Estavas entre as abelhas ou eras o perfume embriagador?

Era o arroio que murmurava ou eras Tu que sorrias a ciciar meu nome? Eras o cantor ou a melodia? Eras a noite ou eras o dia?

Fiz-me devoto ajoelhando-me aos Teus pés, sem querer saber Teu nome ou quem eras, sabendo apenas que sem Ti eu não mais poderia viver, porque Tu és a Vida e eu faço parte de Ti.

Tagore

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