quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Saudades


Sinto saudades dos pastos verdes, das campinas ondulantes e da caatinga. Sinto saudades da poeira seca da minha terra, do cheiro das coisas e do som argentino do sino da igreja. Escuto ainda na voz da memória o balir das ovelhas, o mugir do gado, o zurrar do asno, o relinchar do cavalo. No tempo da minha saudade escuto o galo cantar para acordar o dia que se demora preguiçoso nos braços da noite.

Não tardes sol, a vida precisa de ti! E ele acorda langoroso e dolente e abraça-a, estendendo os raios aos confins da terra. Mas lá na minha terra o sol é mais ardente, pois o dia é exigente e zeloso; assim, cresta a terra insensata e seca as cacimbas seculares. Mas, mesmo assim, sinto falta da poeira e do pó, e ainda escuto ao longe o carro de boi.

Vai boi manso, guiando as rodas da minha saudade! Vai, vai bem para longe. Talvez, quem sabe, carregues contigo a memória traiçoeira.

Vestido branco de chita – prefiro cetim – toda arrumada e sestrosa, lá vem a menina para a feira. No rosto, leva o carmim, nos lábios, leva a cor do sol da nossa terra. Caminha ligeira, apressada. Vai levar alegria para os olhos cansados.

Sinto saudades do cheiro do mato, do odor acre da fumaça, da panela no fogo, as batatas cozidas fazendo as honras da casa. De tudo sinto falta e anelo poder um dia a tudo rever. Quem sabe, talvez, meu amor reencontrar. Já recordo nesse momento as noites de lua do meu lugar. Dengosa, a lua veste de prata os seus raios para os namorados. E as velhas beatas, vé u na cabeça, vestido comprido – a língua também! Até delas sinto falta.

Meu Deus, me permita um dia voltar, cobrir os meus passos de outrora, passos cansados, errados, antigos, com os passos de agora. Percorrer meus caminhos, sentir minha terra, ouvir as cantigas cheirar o jasmim.

Meu Deus não me tire o chiar do carro de boi, a fumaça do fogão, o sino da torre, o terço na mão.

Meu Deus, não te peço amores, prazeres; te peço a penas poder à minha terra voltar, plantar o milho, o feijão, colher o algodão.

Meu Deus, se me deres outra vez a vida, te prometo renovar-me e novo homem ser. Assim, meu Senhor, não mais chorarei por mim.

Mensagem de "Um Sertanejo Saudoso",

psicografada em 29/06/1992 por Vera Cohim.

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