quarta-feira, 12 de maio de 2010

Olhar livre

Publicado em: 19 de abril de 2010

Aprendi muita coisa em meu trabalho como terapeuta, cuidado das pessoas. Aprendi, continuo aprendendo e sei que continuarei assim. Tenho notado intensamente que um dos grandes aprendizados que se tem é passar a respeitar as diferenças e, principalmente, não julgar. É incrível a mania que o ser humano tem de julgar.

De apontar os dedos para o outro, julgando, criticando, recriminando. Será que ninguém percebe que ao apontar um dedo ao outro apontamos no mínimo três para nós mesmos? E mais, será que ninguém percebe que se julgamos também podemos ser julgados? E que ninguém é assim tão superior que possa avaliar, julgar, criticar as outras pessoas?

Posso dizer que ao aprender Astrologia, percebemos a realidade do pensamento “cada um é único”. Percebemos que cada pessoa tem suas motivações, sua criação, seus desejos, necessidades, suas fraquezas, desafios e forma de encarar as coisas. Com certeza, ninguém está dentro do outro para saber o que o motiva a fazer isso ou aquilo.

É impossível entrar no interior de qualquer outra pessoa e perceber seus reais sentimentos e necessidades, o que causa dor, medo, vontade... apenas temos como saber o que se passa em nós mesmos, e quando percebemos isso já é uma grande coisa, pois é muito comum a falta de consciência em relação às nossas verdadeiras motivações.

Isto significa que, se geralmente já é difícil darmos conta de nós mesmos, imagine dos outros. E ficar preocupado apenas em julgar o outro, em viver a vida alheia, em apontar o dedo e dizer que nunca faria isso ou aquilo, demanda uma energia enorme! E quem somos nós para fazer isso?!?

Enfim, na minha humilde visão, devemos cada vez mais buscar o autoconhecimento e o entendimento de que somos diferentes uns dos outros, mas que temos também muito em comum. Isto significa que não é possível saber o que se passa no íntimo das demais pessoas, mas que somos todos seres humanos e devemos aprender a compreender e aceitar as igualdades e, principalmente, as diferenças.

Quando aceitamos o outro, ainda que sem concordar, sem dúvida vivemos mais felizes, sem tantos desgastes além do que já tendemos a ter. Isto vale para todos nós. Viver mais a própria vida, aceitando a vida dos outros. Sem dúvida muito do que somos, do que fazemos e do que escolhemos também não é aceito ou respeitado pelo outro. Pensando nisso talvez fique mais fácil perceber que também estamos sujeitos às avaliações e julgamentos alheios.

E quem gosta de ser julgado? Ninguém. A atenção com a imagem que passamos, com estarmos sempre “certos” e perfeitos aos olhos do outro costuma ser preocupação frequente. Com isso, a tendência é vivermos os padrões da nossa família, dos nossos vizinhos, da sociedade.

É comum que pessoas vivam infelizes ou em uma falsa felicidade apenas pela manutenção daquilo que foi programado ou planejado para nós, ignorando que temos essência, alma, vontades e vocações. Seja por estarem vivendo um relacionamento infeliz, trabalhando em uma profissão apenas pela segurança, ou mantendo uma amizade pelo status ou qualquer do gênero. E quem disse que isso tudo é seguro?

Será que é melhor vivermos o que achamos ser o mais perfeito, o mais bonito, o mais correto, ou tentar sermos de fato felizes? Particularmente, voto na última opção. E ser feliz de verdade é ser aquilo que somos e aquilo que podemos ser, que nem sempre é o que planejamos inicialmente, ou aquilo que os outros esperavam de nós.

Costuma ser difícil, aliás, compreendermos quem busca a felicidade como a verdadeira expressão de si mesmo, pois pessoas assim nos mostram que é possível mudar, que se pode jogar tudo para o alto e ser realmente feliz. E como isso não é nada fácil, pelo contrário, dá muito trabalho, o mais comum é fugir disso. Mas vale tanto a pena!

E esta dificuldade está diretamente relacionada à grande inclinação que os seres humanos têm para ficarem julgando uns aos outros. Porque se não estamos conectados plenamente com aquilo que está em nosso interior, se estamos vivendo sob as máscaras que criamos ou criaram para nós, como é que vamos conseguir respeitar o outro, se não respeitamos nem a nós mesmos?

Isto, na minha opinião, vale para todos. Principalmente para alguém que se dispõe a lidar com pessoas, a ser um astrólogo, um tarólogo, um terapeuta, um psicólogo, um médico, ou qualquer pessoa que lide diretamente no contato com o outro. Como ajudar alguém, se além de não se ajudar, o “curador” não consegue enxergar que o outro tem uma natureza particular e suas próprias motivações? Como fazer isso sem julgar? Para mim ié impossível.

Apenas podemos fazer um bom trabalho ao respeitarmos o que está por trás, ou melhor, por dentro do outro. Para uma pessoa se relacionar harmoniosamente com outra, independente de se tratar de uma relação profissional, é preciso aceitar o outro como um ser humano cheio de vontades, de fraquezas, de motivações. Já cansei de ver gente julgando os outros, tendo por base apenas a experiência particular que tiveram.

Esta é outra questão importante, a ser trabalhada para nos relacionarmos bem com todos, especialmente quem cuida diretamente de outras pessoas. Então, se alguém teve uma experiência ruim com o pai, por exemplo, tende a achar que todos devem ter passado por isso também. Ou, quem tem ou teve um casamento infeliz, achar que todos casamentos sempre serão assim. E a realidade é bem distante disso.

Afinal, se somos únicos, vivemos também experiências únicas. E precisamos estar abertos para saber o que o outro tem a nos dizer, saber porque ele vive desta ou daquela maneira e se quer também nos ouvir. Como dizem os mais antigos: se conselho fosse bom, não se dava, se vendia. Pois bem, este é outro ponto.

Se julgar e guardar para a opinião para si já é algo relativamente complicado, dizer o que pensamos, então, nem se fala! Por isso a necessidade de cuidar muito bem das palavras, seja um conselho ou opinião que damos a um amigo ou em um atendimento como profissional. As palavras têm um peso e podem magoar, influenciar e fazer muita diferença na vida de uma pessoa. Por isso, cuidado ao falar o que pensa.

Outro aspecto que merece atenção é o julgamento às avessas, a imitação. Achar que o outro é que está sempre certo, que está sendo bem sucedido, que está feliz, e querer fazer e ser exatamente do mesmo jeitinho que o outro é. Isto é um grande perigo, e algo comum em um mundo onde muitos têm a sensação de estarem desencontrados. Mas, se você é único, ao tentar ser o outro você não será satisfatoriamente nem você mesmo e muito menos o outro.

Lembre-se de que melhor para alguém nem sempre é o melhor para o outra pessoa. Busque entender de verdade o que é melhor para si mesmo. Ou melhor, quem você é de fato e o que pode fazer para desenvolver este “eu interior” que sempre clama por sair para a vida e aparecer! Aprenda a se aceitar em primeiro lugar. Entenda que se algo no outro lhe incomoda ou você não concorda, provavelmente isto está chamando atenção para alguma questão sua, pessoal. E passe a aceitar mais as outras pessoas, respeitando-as exatamente do jeito que são. Quem sabe um dia todos nós consigamos, então, aprender a nos relacionarmos melhor e sermos verdadeiramente felizes, por inteiro!


Créditos - Recebi por e-mail, não sei o autor.

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