Por que os homens empacam nos relacionamentos? Esta é uma das perguntas, freqüentemente formuladas pelas mulheres.
Não posso dar uma resposta direta a esta pergunta, por várias razões: (1) não sou homem e, portanto, não posso falar a partir da própria experiência; (2) não sei se todos os homens empacam e (3) mesmo que seja assim, é provável que cada um o faça por motivos muito particulares. No universo humano, cada pessoa tem suas razões próprias, embasadas em uma história de vida e um contexto único.
Mas posso levantar mais perguntas e, com isto, contribuir para que cada pessoa, seja mulher, seja homem, possa encontrar suas próprias respostas e chegar a uma compreensão melhor, se não absoluta, a respeito dos relacionamentos.
Em primeiro lugar, toda pergunta é formulada por alguém, que tem suas próprias razões para formulá-la. Então, quem é esta mulher que faz a pergunta e a partir de que perspectiva ela a formula? Quais são as experiências e expectativas que configuram o contexto a partir do qual a pergunta emerge?
Quando digo que o homem empaca, estou afirmando que EU quero que ele siga em frente, vá a algum lugar. É de minha perspectiva pessoal que defino seu comportamento. Eu quero que ele faça algo que é o meu desejo. E se ele não quiser? Talvez ele não esteja empacado, mas esteja conscientemente “pondo o pé no freio”, como me sugeriu um homem, fazendo suas próprias escolhas.
Claro, por muitos séculos as mulheres foram ‘doutrinadas’ a seguir os homens, de modo que, se quisessem chegar a um lugar, seria necessário que eles as levassem. Assim, inconscientemente, ainda esperamos que eles liderem o caminho. Apesar de não estarmos mais submetidas a estas regras sociais, os padrões comportamentais perduram por muito mais tempo no inconsciente, determinando nossos desejos e expectativas. Padrões antigos e novos se conflitam em nossa experiência emocional.
Então é importante esclarecer primeiro para onde eu quero ir e porque quero ou preciso que ele me acompanhe. Muitas vezes não sabemos o que realmente queremos. Achamos que queremos algo e ficamos querendo que o outro nos acompanhe, mas não sabemos dizer claramente para onde queremos ir e o que esperamos do outro.
Quero que o outro se comprometa comigo? Primeiro precisa saber qual é o nível de comprometimento que tenho comigo mesma. Vamos primeiro nos perguntar o que é que queremos dele. Muito daquilo que esperamos de um parceiro, podemos proporcionar a nós mesmas. Existem muitos modos diferentes de atender às nossas necessidades, além de depender de alguém para nos preencher.
Em lugar de nos queixarmos de que chega um ponto em que ele não quer dar mais, talvez pudéssemos nos perguntar se ele tem para nos dar aquilo que queremos. E mesmo que tivesse, ele não teria o direito de não querer dar? E se nós aceitássemos aquilo que ele tem para oferecer? Com isto não quero dizer que precisamos nos satisfazer com o que nos é dado. Mas é muito comum que, nos relacionamentos amorosos, ocorra uma regressão à nossa condição de criança, fazendo com que todas as insatisfações e insuficiências que acumulamos ao longo da existência se apresentem para serem atendidas.
Muitas vezes escolhemos, inconscientemente, pessoas que não têm para nos dar o que queremos. Considerando que aquilo que queremos insistentemente é algo que nos faltou no passado, esta escolha tem uma importante função psicológica, porque é uma tentativa de completar um vazio em nossa experiência infantil. Mas é fundamental nos conscientizarmos de que não é o outro que vai preencher este vazio, ele apenas atua como um catalisador, que traz à tona aquilo que estava oculto no nosso porão emocional.
Se assim não fosse, porque eu não sigo em frente, quando ele empaca? Será que eu também não estou empacada em alguma parte da minha trajetória evolutiva? Se eu desempacar e seguir em frente, talvez ele se sinta estimulado e tenha vontade de me alcançar e acompanhar. E se ele não o fizer, porque eu ficaria empacada, culpando-o por minha escolha de não seguir em frente? Para atrair alguém ao lugar que queremos, precisamos ir a este lugar e demonstrar que ele é desejável.
Na esfera dos relacionamentos, nós mulheres realmente queremos chegar muito mais longe, mas precisamos nos responsabilizar por nossos desejos e assumir a liderança, pois os homens não sabem o caminho. Sempre foram as mulheres que iniciaram os homens nos caminhos da emoção, seja como mães, irmãs, sacerdotisas, cortesãs. Mas elas não exigiam nada deles, elas sabiam que eram eles que precisavam aprender, que eles eram iniciantes nas esferas do amor. E assim, assumiam uma atitude amorosa e com isto transmitiam sua própria experiência para eles.
Mas os tempos são outros e talvez não queiramos mais assumir o compromisso de ‘educá-los’, assim como os homens talvez não estejam mais dispostos a assumirem a responsabilidade por mulheres que dependam deles.
A questão dos relacionamentos é o foco do nosso próximo passo evolutivo como seres humanos. Precisamos aprender a nos relacionar de forma mais amadurecida, adquirir maestria não apenas nos relacionamentos amorosos, mas nos relacionamentos em geral.
Viver uma relação significa eu me abrir para o outro, acolher o outro como ele é. Diz uma linha do I Ching que, quando quero influenciar alguém, preciso me deixar influenciar. Claro que isto precisa acontecer com consciência. Quando me deixo influenciar, acolho o outro no meu campo e interajo com ele, respeitando e honrando o que ele é. Ao fazer isto, dou ao outro a possibilidade de experimentar o que quero dizer, uma vez que ele está acolhido no meu campo e pode experimentar o que eu sinto.
Se formos capazes de lidar com as diferenças, poderemos fazer dos relacionamentos entre mulheres e homens a melhor sala de aula para criarmos tempos mais felizes. Para isto, precisamos nos conscientizar e trabalhar conosco, clareando nossos desejos, nossas necessidades, nossos anseios; precisamos conscientizar nossas crenças e emoções limitantes, criando novos padrões de comportamento e de relacionamento conosco e com os demais seres humanos.
Muitos homens têm-se queixado de que estão cansados de ‘discutir a relação’. E eles têm certa razão. Relação é algo que se vive, não algo que se discute. As palavras geralmente caem no vazio, porque homens e mulheres falam de lugares diferentes, como demonstram estudos lingüísticos. As mulheres falam para se relacionar, os homens falam para responder a uma situação e encontrar uma solução. Não é de estranhar que não nos entendemos!
Acredito que todos podemos falar de ambos os lugares em momentos distintos, mas para sabermos que lugar estamos ocupando e de que lugar o outro está falando, precisamos estar conscientes. Precisamos estar em contato com os nossos sentimentos e acolher os sentimentos do outro. As discussões sobre as relações são, em sua maioria, cobranças e acusações mútuas, com ambos assumindo uma atitude defensiva ou acusadora, alternada ou simultaneamente. É mais um jogo de pingue-pongue, uma conversa de surdos-mudos, do que um diálogo. E isto não leva a lugar algum.
Precisamos desconfiar das histórias românticas que nos foram empurradas goela abaixo e deixar de esperar o príncipe encantado. Relacionar-se com pessoas de carne e osso, com suas limitações, fraquezas e deficiências, requer fortalecer nossa capacidade de amar verdadeiramente, começando conosco. Acolher nossas próprias fraquezas e deficiências, procurando nos suprir das coisas que são importantes e saudáveis para nós; significa assumir responsabilidade por nós mesmas e não depositar nossa felicidade nas mãos de alguém ou alguma outra coisa. Isto invariavelmente nos levará à decepção e à insatisfação.
Aprimore-se na arte do relacionar-se, começando com uma relação honesta e consciente com você mesma!
Monika von Koss .
sexta-feira, 14 de maio de 2010
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